domingo, 21 de novembro de 2010

"A Cientificação do Amor"


Oi pessoal, várias pessoas que trabalham comigo, além dos acadêmicos que passam nos estágios na Maternidade Vitor do Amaral, habitualmente me questionam em relação ao meu modelo de assistência...querem saber principalmente onde aprendi tais práticas de parto....imagino que também devem pensar de onde "tiro" minhas idéias "divergentes" de outros profissionais...rs
Então pensei em dar aqui algumas dicas de leituras (livros, artigos cientificos) que fiz e que ainda estou fazendo...e que ajudam na minha prática diária em obstetricia.
O primeiro livro que indico é "A cientificação do Amor" do Michel Odent, é um livro maravilhoso, uma leitura tranquila, para qualquer pessoa...principalmente para profissionais da obstetricia que desejam "humanizar" ou "naturalizar" sua assitência as mulheres. Basicamente o tema central gira em torno da ocitocina (importancia da ocitocina endógena)e das intervenções obstétricas e suas consequências (sérias/graves)na vida de um ser humano....a influencia do modo como nascer pode ter sobre os vinculos afetivos e o comportamento de cada indivíduo. E o principal do conteúdo....principalmente para os profissionais mais céticos...é que ele é todo baseado em pesquisas e evidências científicas!!!Há 4 anos li este livro...fez parte da minha mudança enquanto pessoa e profissional...lembro que na época fiquei bem "piradinha" pensando o quanto minhas atidudes teriam influenciado a vida dos invivíduos que auxiliei a grande chegada....mas sempre há tempo de mudar (eu tenho mudado...todo dia)...e principalmente de fazermos nossa parte na mudança por um mundo menos violento!!! Bjo gente, Adelita

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

ASSISTÊNCIA DA ENFERMEIRA OBSTETRA NO PARTO ATIVO E HUMANIZADO

O modelo de assistência ao parto no Brasil é predominantemente tecnocrático, especialmente nas instituições de ensino, local de formação de profissionais da saúde(1). No entanto, com o movimento pela humanização do parto e nascimento(2), outros tipos de experiências vêm ganhando visibilidade e, com ele, o conceito de parto ativo(3). O termo humanização vem historicamente sendo expresso como uma mudança no entendimento do parto como uma experiência humana, e para quem o acompanha um direcionamento de como agir diante o sofrimento de uma mulher. Para tanto, desde o inicio do século XX a medicina tem tentado abreviar este sofrimento, por meio da hospitalização do parto e o uso de intervenções, na maioria das vezes iatrogênicas – fórceps, episiotomia e cesareana. A crítica a este modelo tecnocrático e intervencionista se desenvolve com o surgimento de diversos movimentos pelo resgate do parto como um evento natural, consciente, sem violência e controlado pela mulher.
Assim o parto passa de castigo e sofrimento a evento que respeita e envolve experiências pessoais, sexuais e familiares, tais como as dores, a presença de gemidos, secreções, emoções intensas e contato corporal(4). Para que um parto seguro, fisiológico e prazeroso ocorra alguns fatores devem ser oferecidos ou minimizados.
O excesso de estímulos durante um trabalho de parto pode torná-lo demorado, doloroso e cansativo, além de favorecer a utilização de intervenções medicamentosas. A presença de luzes, conversas desnecessárias e pessoas observando seu comportamento, podem gerar um comportamento de estresse e medo que levam a intensificação da sensação dolorosa, além da liberação de adrenalina e conseqüente bloqueio do hormônio ocitocina – responsável pela ocorrência das contrações durante o trabalho de parto(6). A mulher deve sentir-se segura e confortável, seja qual for o local de escolha para a ocorrência do parto(5). Nesta perspectiva, cabe a enfermeira obstetra identificar a necessidade individual de cada gestante, seja no hospital ou domicilio, permitindo, apoiando e favorecendo um parto seguro, ativo, natural e consciente. Desta maneira, apresento um relato de experiência sobre como as concepções de parto ativo e humanizado e a prática de uma enfermeira obstetra, em um hospital de ensino e em domicílio vem se desenvolvendo. Atuo como enfermeira obstetra em maternidade situada em Curitiba, capital de um dos Estados da Região Sul do Brasil. Trata-se de um hospital-escola público; nele, a assistência aos cerca de 300 partos/mês é realizada por estudantes, residentes de medicina, médicos obstetras e, também por enfermeiras obstetras. O modelo de assistência ainda é centrado na figura do profissional médico e as mulheres têm pouca ou nenhum poder decisório sobre seu corpo e sobre os procedimentos realizados. No Brasil, as enfermeiras possuem dificuldades de atuação na área obstétrica, principalmente na assistência ao parto hospitalar(7). Não é diferente onde atuo. Entretanto, como muitas enfermeiras, sinto-me comprometida com uma nova forma de atender as mulheres no momento do parto. Há quatro anos tenho assistido partos num modelo de assistência que valoriza o parto fisiológico. Neste modelo as mulheres são encorajadas e apoiadas a permanecerem ativas durante seu trabalho de parto, adotando posições verticais, movimentando seus corpos e seguindo seus instintos. Seguem-se ainda as recomendações da Organização Mundial de Saúde para o parto(5), tais como ingesta de liquidos por via oral, presença do acompanhante e uso racional das intervenções. A maioria dos profissionais, médicos e de enfermagem, desconhecem este modelo de assistência, ou acostumados ao modelo tradicional relutam em praticar este novo olhar sob o nascimento. Minha outra experiência como enfermeira obstetra aconteceu há um ano quando iniciei a prática do parto domiciliar em Curitiba. O convite para adentrar neste novo universo partiu da solicitação de gestantes ávidas por vivenciar de maneira natural, ativa e intima o nascimento de seus filhos. Em um ano acompanhei 9 partos domiciliares – para mim quebra de paradigmas e experiências renovadoras. Corpos femininos carregados de conflitos, emoções e prazeres. Em cada parto vivenciei o processo de parir e testemunhei o feminino, o instintivo, o sexual e o renascedor. O domicílio propicia uma espécie de ninho acolhedor e seguro, preparado pela própria mulher para receber seu filhote – é dona do seu ambiente, somos apenas visitas convidadas a assistir o nascimento de uma criança e o renascimento de uma mulher, de uma família. Ao testemunhar partos naturais e instintivos, no hospital ou em casa, percebo como a natureza é soberana e interferir neste processo, somente com muita sensibilidade, delicadeza e sabedoria.
DENIPOTE, AGM

REFERENCIAS:
1. Davis-Floyd RE. The Technocratic Body: American childbirth as cultural expression. Social Science and Medicine. V. 38, no. 8, p.1125-1140, 1994.
2. Ministério da Saúde. Parto, aborto e puerpério. Assistência humanizada à mulher. Brasília (DF); 2001.
3. Balaskas J. Parto Ativo – Guia Prático para o Parto Natural. Ed. Ground. 1996. São Paulo.
4. Diniz CSG. Humanização da assistência ao parto no Brasil: Os muitos sentidos de um movimento. Ciência & Saúde Coletiva 2005, 10(3): 627-637.
5. Organização Mundial de Saúde (OMS). Maternidade segura: assistência
ao parto normal – um guia prático. Genebra(SW); 1996, p.12.
6. Odent Michael. A Cientificação do Amor. Florianópolis: Saint Germain, 2002. 142p.
7. Merighi Miriam Aparecida Barbosa, Yoshizato Elizabete. Seguimento das enfermeiras obstétricas egressas dos cursos de habilitação e especialização em enfermagem obstétrica da Escola de Enfermagem, da Universidade de São Paulo. Rev. Latino-Am. Enfermagem [serial on the Internet]. 2002 July; 10(4): 493-501.