domingo, 20 de março de 2011

PARTEIRAS URBANAS !!!

PELO DIREITO AO PARTO DOMICILIAR PLANEJADO
Cada vez mais mulheres trocam a segurança do hospital pelo aconchego do lar na hora de ter bebê. Não à toa, surge uma nova leva de parteiras, que são enfermeiras especializadas e atuam em grandes cidades.
No Brasil, país onde são realizadas por ano 1,2 milhão de cesarianas, 40% dos nascimentos - e esse índice chega a 9...0% em certos hospitais particulares -, conseguir um parto normal já é uma vitória. Mas para algumas mulheres isso não basta. Elas querem ter filho fora do hospital, em local acolhedor, onde o ritmo do seu corpo seja respeitado. E sem procedimentos médicos como jejum, lavagem intestinal, soro ou episiotomia, corte lateral na vagina feito em 70% a 80% dos partos normais, embora se recomende não passar dos 20%, por risco de complicações para a mãe. Interessadas em resgatar o que parece ser mais natural, essas mulheres preferem dar à luz no aconchego do lar ou em casas de parto, onde são atendidas por uma parteira. Nada a ver com aquela figura tradicional, que atua basicamente em regiões inóspitas, com pouquíssima estrutura, cobrindo o buraco da falta de médicos e hospitais. As novas parteiras urbanas são enfermeiras especializadas, ou obstetrizes, e acreditam no que chamam de 'parto humanizado'.
'Decisões como dar à luz de cócoras ou na água e por quanto tempo ficar com o bebê no colo após seu nascimento deveriam sempre ser tomadas pela gestante, não por médicos ou enfermeiras', reforça Ana Cris Duarte, criadora do site www.amigasdoparto.com.br. Um parto humanizado envolve ainda a presença do companheiro - ou de alguém da família -, um direito garantido pelo Ministério da Saúde desde 2004 em todo o território nacional. Em nascimentos fora do hospital, procura-se respeitar tudo isso.
Em países como Holanda, Japão e Suécia, os partos domiciliares ultrapassam os 30% do total. Na Itália, esta é uma opção oferecida à futura mamãe já na primeira consulta do pré-natal. No Brasil, não há sequer números confiáveis para medir a quantidade de parteiras em atividade. 'O último levantamento oficial foi feito há 14 anos e não contemplava as regiões Sul e Sudeste', diz Suely. Na época, foram contadas 60 mil parteiras. Em outras palavras, o movimento pró-parto humanizado por aqui ainda é incipiente. Mas já dá sinais de que veio para ficar. Há hoje no país cerca de meia dúzia de casas de parto - duas em São Paulo, uma no Rio de Janeiro, duas em Minas Gerais e uma no Ceará.
UM ATO NATURAL
Mas falar de parto fora do hospital soa dissonante em um país onde a maioria dos médicos parece preferir a cesariana. E, para convencer suas pacientes, usam argumentos que assutam. Às vezes afirmam, por exemplo, que a bacia é estreita ou o bebê, grande. Realmente, pode haver uma desproporção, mas isso só é diagnosticado no fim do trabalho de parto, explica Kuhn. Um médico jamais poderia marcar antes uma cesariana por isso. E há argumentos que simplesmente não procedem, como cordão umbilical enrolado no pescoço. 'Ocorre com cerca de 30% dos bebês, mas não há perigo de asfixia', diz Kuhn. A chave da questão é que o parto normal pode levar de 12 a 24 horas. A cesariana é rápida e exige menos decisões de última hora do médico. 'Além da insegurança, os obstetras não querem perder horas com um trabalho de parto para ganhar a mesma remuneração da cesariana, na qual gastam uma hora', avalia Colás.
Só uma mudança cultural faria o parto normal voltar a ser encarado por todos como o que de fato ele é: um ato fisiológico, natural, para o qual 85% das mulheres estão preparadas. Assim, o número de cesarianas poderia cair para os 15% a 20% recomendados pela OMS. Se dependesse só da vontade das parturientes, isso já teria acontecido. Em estudo de 2001, cerca de 80% das 1.136 grávidas brasileiras ouvidas declararam preferir o parto normal. Apenas metade delas conseguiu um.

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