sábado, 26 de março de 2011

CONTRA A MUTILAÇÃO GENITAL NO PARTO!!

Todos os anos, milhões de mulheres na América Latina têm sua vulva e vagina cortadas cirurgicamente (musculatura vaginal, tecidos eréteis da vulva e vagina, vasos e nervos) sem que haja qualquer justificativa médica para isso. Esse corte, chamado episiotomia, tem sido utilizado de rotina em centenas de milhões de mulheres desde meados do século XX, com base na crença de sua necessidade para facilitar o parto, e para a preservação do estado genital da parturiente. A partir da metade da década de 80, há evidência científica sólida recomendando a abolição da episiotomia de rotina. Sabe-se que, para a grande maioria das mulheres, a episiotomia é um problema, não uma solução: ao invés de promover a saúde genital ou a do bebê, provoca danos sexuais importantes, dor intensa, aumenta os riscos de incontinência urinária e fecal, e leva com freqüência a complicações infecciosas, problemas na cicatrização e deformidades, genitais, entre outros agravos. Trata-se de uma violação dos direitos sexuais e reprodutivos, dos direitos à integridade corporal, à informação e escolha informada, à condição de pessoa e à eqüidade no acesso à saúde. Vários estudos mostram que as mulheres relatam que o momento mais doloroso da parto foi exatamente o da sutura da episiotomia. Muitas mulheres relatam que escolhem a cesárea para fugir de uma episiotomia, especialmente depois de uma experiência traumática e com seqüelas. Diante da permanência desta prática na assistência ao parto, injustificável frente às evidências científicas, a episiotomia de rotina tem sido considerada por vários autores como uma forma de mutilação genital, e mesmo como violência de gênero cometida pelas instituições e profissionais. No Brasil, prevalece um sistema erótico baseado nas noções de atividade-masculino e passividade-feminino. Essa concepção mecânica e passiva da vulva e da vagina é transposta para o parto, dificultando a compreensão, mesmo pelos médicos, de que faz parte da anatomia e fisiologia normal das mulheres que seus genitais aumentem de tamanho durante o sexo e o parto, voltando depois ao tamanho usual. A concepção dos genitais femininos como passivos ratifica a idéia da vagina "apertada" ou "frouxa" (mas sempre passiva, diante do falo em movimento que a estimula e é estimulado). Isto dificulta a compreensão da vagina e vulva como órgãos ativos, capazes de se contrair e relaxar, de acordo com a vontade feminina, até por se tratar de musculatura voluntária, tal como re-descrito pelos estudos mais recentes da anatomia e fisiologia genital feminina. Em resumo, mais do que prevenir a episiotomia, a questão é como promover a integridade corporal no parto. Isso inclui as mudanças institucionais discutidas acima, mas também na formação de recursos humanos e na opinião pública, para reduzir os índices de episiotomia desnecessária (lesão sexual iatrogênica no parto), promovendo uma assistência ao parto menos agressiva e uma vida sexual mais satisfatória, para mulheres e suas parcerias.
Fonte e Texto na Íntegra: Simone G. Diniz é médica, doutora em Medicina Preventiva e professora do Departamento de Saúde  

9 comentários:

  1. Nossa, muito bom este artigo da Dra. Simone!

    Eu concordo com ela em grau, número e gênero: episiotomia sem real necessidade é mutilação, ainda mais da forma como é feita no Brasil - a gestante pede pro médico não fazer e na hora ele vai lá e corta, muitas vezes sem o consentimento da gestante, que só fica sabendo depois!

    Só falta agora as mulheres tomarem coragem e processarem os médicos por lesão corporal grave, aí quem sabe eles começam a nos respeitar mais, né?!

    Bjosss

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  2. Com certeza Taiza, nunca vi ninguem avisar que ia "cortar" ou pior...dar o direito de escolha...pior ainda...alguns profissionais fazem sem anestesia o corte....as mulheres tem que processar mesmo...bjos

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  3. Ótimo texto, desconhecia isso, álias acredito que a maioria das mulheres desconhece, no parto dos meus 2 primeiros, que são 5 ao todo, lembro do médico ter cortado, não sei se foi por conta do corte, mas quando ganhei os outros 3 essa pele se "abriu" e eu tive que suportar os pontos novamente, com certeza se na época tivesse conhecimento sobre isso, teria processado o médico, pois sofri muito com a recuperação e o medo de ter relações após esse episódio.

    Vou divulgar no meu face e twitter para que outras mulheres não deixem essa mutilação acontecer, parabéns pelo artigo!

    Beijos Jô

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Adelita, parabens pelo BLog. Sinto-me honrada em ser enfermeira quando vejo que ha colegas competentes, humanizadas e comprometidas como tu, que nao param no tempo. A episio teve sua "epoca" de verdade cientifica,e a gente entende que o conhecimento mostrava que era bom, mas atualmente a ciencia ja mostra outro sentido, e nao podemos tolerar mais a teimosia e ignorancia de obstetras que insistem numa "contra evidencia. Hoje sim, apoio que as mulheres processem porque ja nao ha mais razoes para episo ser uma rotina. Um abraco, Celestina

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  6. Olá!!Adorei o artigo muito bom!
    Vc sabe mais ou menos quanto tempo demora para fechar os cortes dos pequenos labios que não foi fechado com pontos??
    Obrigada

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  7. penso que vc deve estar falando de laceração espontanea, certo? Tipo, este "corte" não foi feito pelo profissional né?!Então, normalmente este tipo de laceração cicatriza em poucos dias, dependendo do tamanho e saude, ja vi cicatrizar em 24 horas.Bjos

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  8. gostaria de saber se a vulva volta ao normal apos a episiotomia?

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    1. Olá, não, a vulva não volta ao normal após uma episiotomia...seja pela "cicatriz" externa ou principalmente pela area rígida de fibrose que se forma no local!

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